quarta-feira, 13 de junho de 2007

Migrantes, emigrantes, imigrantes

Como os Galegos, também os Portugueses são um povo de emigração que, como tal, sente ou já sentiu na carne a exploração denunciada nestes versos de Rosalía Castro, a grande senhora das letras galegas. Bom seria que os portugueses rejeitassem essa exploração, quando os oprimidos são os imigrantes que nos escolheram na procura de melhores condições de vida, muitos dos quais são vítimas de uma feroz gatunagem, por parte de gentalha sem escrúpulos.

Castellanos de Castilla,
tratade ben ó
s gallegos;
cando van, van como rosas;
cando vén, vén como negros.

─ Cando foi iba sorrindo,
vando veu, viña morrendo
a luciña dos meus ollos,
o amantiño do meu peito.

Aquel máis que neve branco,
aquel de doçuras cheyo,
aquel por quen eu vivía
e sin quen vivir non quero.

Foi a Castilla por pan,
e saramagos lle deron;
déronlle fel por bebida,
peniñas por alimento.

Déronlle, en fin, canto amargo
ten a vida no seu seo...
¡Castellanos, castellanos,
tendes coraçón de ferro
!

¡Ay!, no meu corazonciño
xa non pode haber contento,
que está de dolor ferido,
que está de loito cuberto.

Morreu aquel que eu quería
e para min n-hai consuelo:
solo hai para min Castilla,
a mala lei que che teño.

Permita Dios, castellanos,
castellanos que aborreço,
que antes os gallegos morran
que ir a pedirvos sustento.

Pois tan mal coraçón tendes,
secos fillos do deserto,
que si amargo pan vos ganan,
dádesllo envolto en veneno.

Aló van, malpocadiños,
todos de esperanzas cheyos,
e volven, ¡ay!, sin ventura,
con un caudal de despreços.

Van probes e tornan probes,
van sans e tornan enfermos,
que anque eles son como rosas,
tratádelos como negros.

¡Castellanos de Castilla,
tendes coraçón de aceiro,
alma como as penas dura,
e sin entrañas o peito!

En trós de palla sentados,
sin fundamentos, soberbos,
pensás que os nosos filliños
para serviros naceron.

E nunca tan torpe idea,
tan criminal pensamento
coupo en máis fátuas cabezas
ni en máis fátuos sentimentos.

Que Castilla e castellanos,
todos nun montón a eito,
non valen o que unha herbiña
destes nosos campos frescos.

Solo peçoñosas charcas
detidas no ardente suelo,
tés, Castilla, que humedezan
esos teus labios sedentos.

Que o mar deixoute olvidada
e lonxe de ti correron
as brandas auguas que traen
de prantas cen semilleiros.

Nin arbres que che den sombra,
nin sombra que preste alento...
Llanura e sempre llanura,
deserto e sempre deserto...

Esto che tocou, coitada,
por herencia no universo,
¡miserable fanfarrona!...
triste herencia foi por certo.

En verdad non hai, Castilla,
nada como ti tan feyo,
que inda mellor que Castilla
valera decir inferno.

¿Por qué aló foches, meu ben?
¡Nunca tal houberas feito!
¡Trocar campiños frolidos
por tristes campos sin rego!

¡Trocar tan craras fontiñas,
rios tan murmuradeiros
por seco polvo que nunca
mollan as bágoas do ceo!

Mais, ¡ay!, de onde a min te foches
sin dór do meu sentimento,
y aló a vida che quitaron,
aló a mortiña che deron.

Morreches, meu quiridiño,
e para min n-hay consuelo,
que onde antes te vía, agora
xa solo unha tomba vexo.

Triste como a mesma noite,
farto de dolor o peito,
pídolle a Dios que me mate,
porque xa vivir non quero.

Mais en tanto non me mata,
castellanos que aborreço,
hei, para vergonza vosa,
heivos de cantar xemendo:

¡Castellanos de Castilla,
tratade ben ós gallegos;
cando van, van como rosas;

cando vén, vén como negros!.

Rosalía Castro, 1863 (in Cantares Gallegos)

postado

sexta-feira, 1 de junho de 2007

AVEIRO - IMAGENS DE UM SÉCULO

apresentação do livro em AVEIRO:
1 JUNHO | 6.ª FEIRA | 21H30
na BIBLIOTECA MUNICIPAL DE AVEIRO
Apresentação da obra por Jorge Seabra

AVEIRO - IMAGENS DE UM SÉCULO

Do espólio de coisas de Aveiro deixado por João Sarabando

Jorge Sarabando - organização, introdução e notas

"Este livro ajudará certamente a conhecer melhor Aveiro e a sua região, os percursos do seu desenvolvimento, o modo como a mão do homem lavrou a terra e a água. Ajudará a compreender como a beleza de uma paisagem é também a de quem a olhou e fixou num momento único e cuidou de guardar a imagem obtida, para que outros mais tarde partilhassem a mesma emoção, a mesma alegria ou assombro, ou, quem sabe, o fio de um pensamento." Jorge Sarabando


João Sarabando (1909-1996)

Jornalista, etnógrafo, com várias obras publicadas e colaboração dispersa em inúmeros títulos de imprensa, desportista, dirigente associativo, João Sarabando é uma figura de referência obrigatória para quantos desejam conhecer e estudar a história da região de Aveiro e a sua gente.
Desde muito jovem e até aos seus últimos dias, foi um cidadão empenhado nos grandes movimentos cívicos - participou na organização dos três Congressos Democráticos, no MUD e nas campanhas eleitorais contra a ditadura, tendo sido perseguido pela antiga polícia política. Depois do 25 de Abril, foi candidato do PCP à Assembleia Constituinte e desempenhou as funções de vereador da Câmara Municipal de Aveiro, entre 1974 e 1976.
Foi distinguido pela Câmara com a medalha de prata da cidade, e pelo jornal 'A Bola', onde colaborou durante dezenas de anos, bem como por várias associações desportivas do distrito de Aveiro.

144 pp. | 20x22 cm | ISBN: 978-989-626-166-6 | Fora de Colecção | PVP: 18.90 €

(Newsletter da editora, in http://www.campo-letras.pt/newsletter_aveiro.html)