quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

À espreita do inimigo: Atalaia, Atalaias

Alto da Atalaia, Atalaia, Atalaia Cimeira, Atalaia Cortes Paraíso, Atalaia da Barroca. Atalaia da Casinha, Atalaia da Contenda, Atalaia da Coutada, Atalaia da Guarita, Atalaia da Quinta, Atalaia da Torre, Atalaia das Casas Novas, Atalaia das Ferrarias, Atalaia das Figueiras, Atalaia das Moitas, Atalaia de Baixo, Atalaia de Cima, Atalaia de Ouguela, Atalaia de São Brás, Atalaia do Alvarinho, Atalaia do Campo, Atalaia do Corgo da Rossa, Atalaia do Meio, Atalaia do Peixoto, Atalaia dos Sapateiros, Atalaia Fundeira, Atalaia Gorda, Atalaia Magra, Atalaia Nova, Atalaias, Baldio das Atalaias, Barranco da Atalaia, Cabeço da Atalaia, Casais da Atalaia, Casal da Atalaia, Casal das Atalaias, Cerro da Atalaia, Coto da Atalaia, Enseada da Atalaia (Madeira), Fonte de Nossa Senhora da Atalaia, Herdade da Atalaia, Horta da Atalaia, Lagoa da Atalaia, Marinha da Atalaia, Mato de Atalaia, Moinho da Atalaia, Moinhos da Atalaia, Monte Abaixo da Atalaia, Monte da Atalaia, Monte da Atalaia Gorda, Monte da Atalaia Lentisqueira, Monte da Atalaia Novo, Monte da Atalaia Queimada, Monte Novo da Atalaia, Monte Velho da Atalaia, Outeiro da Atalaia, Pedra da Atalaia, Picão da Atalaia, Pico da Atalaia (Madeira), Ponta da Atalaia, Porto da Atalaia, Póvoa da Atalaia, Quinta da Atalaia, Ribeira da Atalaia, Ribeiro da Atalaia, Senhora da Atalaia, Silha da Atalaia, Tapada da Atalaia, Vale da Atalaia, Vinha da Atalaia.

A voz "atalaia", do árabe at-talái'a, plural de talaia, "lugar alto onde se exerce vigilância, sentinela", aparece-nos, na Carta Militar 1/25.000, em mais de duas centenas de topónimos e microtopónimos, na forma simples ou integrada em expressões toponímicas (1). Mas nem todos provirão directamente da referida fala árabe, pois houve alguns povoados com este nome que originaram antropónimos, os quais, por sua vez, produziram novos topónimos, realidade que ocorre com frequência em onomástica.
O facto de 73 destes topónimos corresponderem a vértices geodésicos, 12 a montes e 27 a sítios mais ou menos elevados, confirma a origem do étimo e a função dos referidos lugares. A procedência antroponímica estará sobretudo nos cerca de 70 topónimos classificados como "casas" na referida Carta Militar, o que não significa que muitos deles correspondam também a antigos lugares de vigilância, isto é, a antigas "atalaias" ou "almenaras". Alguns destes topónimos inscrevem-se em expressões toponímicas com o elemento genérico (3) [ou "falso genérico"(4)] "monte", identificando uma unidade agrícola do latifúndio alentejano e não um acidente topográfico. Quanto às 22 povoações, onde se incluem 5 sedes de freguesia, poderão ter sido igualmente antigas "atalaias", se considerarmos a sua localização.
Esta toponímia está quase ausente a Norte do rio Douro, onde encontramos uma dezena de ocorrências no distrito de Bragança e no concelho de Montalegre, controlando as entradas fronteiriças mais vulneráveis. A grande concentração destes topónimos ocorre nas zonas raianas, desde o distrito da Guarda ao de Faro, e um pouco por toda a região Sul, controlando os vales e os caminhos que facilitam o acesso aos principais centros urbanos.
Alguns destes sítios e lugares encontram-se muito perto do mar, a mostrar que também dali vinham ameaças, o que a história confirma plenamente, quer no que respeita à regular actividade da pirataria moura, documentada desde a época clássica à Idade Moderna, quer às incursões normandas do século IX, responsáveis pela construção de uma rede de atalaias, mandadas erigir depois de 844 pelo emir ‘Abdal al-Rahman II.
Com funções de vigilância marítima encontramos cinco ocorrências na Ilha da Madeira; no arquipélago dos Açores apenas detectámos uma ocorrência, na ilha do Faial, numa localização que cobre qualquer movimento de aproximação ao Porto da Feteira. A quase ausência desta toponímia nas ilhas açorianas justifica-se por ser outro o apelativo que, nestas paragens, respondia pela missão de vigilância e emissão de sinais: referimo-nos ao topónimo "Facho".
Na Galiza detectámos onze frequências de Atalaia, oito das quais na província da Corunha (paróquias de Cañás, Malpica de Bergantiños, Lesón, Corme Porto, Asados, Corrubeso, Vilarrube e San Martiño de Meanos), uma em Lugo (paróquia de Labrada) e duas em Pontevedra (paróquias de Viascón e Vincios). O topónimo está também presente nas Astúrias, na Catalunha e nas Ilhas Baleares onde, em Ibiza, podemos encontrar a Atalaia de San Joseph. E deve encontrar-se em muitas outras zonas de Espanha, sob a forma Atalaya e Atalayas, se considerarmos a amostra colhida no território palentino, nas comarcas de El Cerrato, Campos, Saldaña-Valdavia, Boedo-Ojeda, Guardo, Cervera e Aguilar (Gordaliza & Canal, 1993: passim).

Notas (do Glossário de termos para a normalização dos nomes geográficos, do GENUNG: Grupo de Especialistas das Nações Unidas para os Nomes Geográficos):

(1)
Expressão toponímica: topónimo composto por um elemento genérico (3) e um elemento específico
(2), ou por um elemento específico com mais de uma palavra. Exemplos: Rossio ao Sul do Tejo; Newfoundland; Silha da Atalaia.

(2)
Elemento específico: parte de um topónimo que identifica e personaliza de modo particular a entidade geográfica nomeada. Pode comportar um artigo, uma partícula de ligação, um outro elemento linguístico. Exemplos: Cabo Mondego; Ria de Aveiro; Rio Vouga; Montemor-o-Velho.

(3)
Elemento genérico: parte de um topónimo que designa de modo geral a natureza do acidente geográfico denominado. Este elemento nem sempre indica com rigor o tipo de entidade denominada. Exemplos: Serra da Estrela, Sierra Nevada, Lac Saint-Jean.

(4) Falso genérico
: termo genérico que não indica o verdadeiro tipo de entidade representada por um elemento geográfico nomeado. Exemplos: Monte Real; Ribeira Brava; Angra do Heroísmo; Rio de Janeiro. Todos estes topónimos correspondem a lugares habitados e não a um monte, ribeira, baía ou rio.

Bibliografia:

GORDALIZA APARICIO, F. Roberto; CANAL SANCHEZ-PAGIN, Jose Maria (1993) - Toponimia Palentina. (Nuestros pueblos: Sus nombres y sus orígenes). Palencia: Caja España. 596 p. ISBN 84-87739-41-5.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

À espreita do inimigo: Almear, Almenara, Almiara

ALMEAR (lugar da freguesia de Travassô, Águeda), ALMIARAS (freguesia de Abrunheira, Montemor-o-Velho) ALMENARA (freguesia de Mata de Lobos, Figueira de Castelo Rodrigo), PRADOS DE ALMENARA (freguesia de Mata de Lobos, Figueira de Castelo Rodrigo), QUINTA DA ALMIARA (freguesia de Verride, Montemor-o-Velho; freguesia de Ventosa, Torres Vedras).

"Almenara", do árabe al-menara, é a forma registada pelos dicionaristas com o significado de lanterna, farol ou fogos de aviso. Como nos diz o Houaiss, uma almenara é o "farol ou fogueira que, colocados em torres e outros lugares elevados, emitiam sinais que podiam ser avistados de consideráveis distâncias", ou ainda, por metonímia, a "torre [ou os lugares elevados] de onde esses sinais eram enviados".
É com o primeiro destes sentidos que encontramos o vocábulo em Fernão Lopes, quando, na Crónica de D. João I (vol. 1, cap. 136), afirma que "faziam do logar [de Almada] toda a noite ao Mestre muitas almenaras".
Segundo Mário Fiúza (Elucidário, 1: 398), a manutenção do -n- intervocálico, em pleno século XV, «prova-nos que o vocábulo foi importado pelo castelhano Almenara, "señal que se hace con fuego en lugar elevado" que se regista desde 1250». No entanto, as formas sem -n- — "Almiar" ou "Almear", "Almiara" e "Almiaras" —, dos topónimos dos concelhos de Águeda, Montemor-o-Velho e Torres Vedras, legitimam a hipótese de recepção anterior do vocábulo que, quanto a nós, poderá ter sido directamente importado do árabe, já no século VIII, antes da queda do -n- intervocálico. O topónimo Almear, do concelho de Águeda, que a Carta Militar 1/25.000 grafa com -e- e localiza erroneamente na freguesia de Eirol do concelho de Aveiro, já aparecia sob a forma "Almeara", sem o -n- intervocálico, nas inquirições de D. Afonso II, de 1220 (Borralha, 1936: 288).
Estes topónimos têm em comum a localização num ponto elevado, dominando uma vasta área a que, em tempos mais ou menos remotos, foi reconhecida uma relativa importância estratégica. Assim, o lugar de "Almear", da freguesia de Travassô, domina a desembocadura do Águeda no Vouga, toda a campina que rodeia esta parte do curso dos dois rios, e ainda a passagem que aqui franqueia o rio Águeda, servida por ponte desde a Idade Média, a Ponte da Rata que, nos finais do século XIII, ainda se chamava "Ponte de Almeara" (Krus, 1993: 151).
"Almiaras", no concelho de Montemor-o-Velho, aloja-se no alto de um monte, dominando as entradas na foz do Mondego e do Arunca e as aproximações a Montemor. "Almenara", com a permanência do -n- intervocálico, a indiciar falas leonesas, alcandora-se a cerca de 650 metros de altitude, próximo da fronteira, vigiando os caminhos dos vales que conduzem a Figueira de Castelo Rodrigo.
Por corresponder a uma realidade transitória, é de rejeitar a toponimização do também dicionarizado "almiara", com o significado de "certa porção de palha presa à volta de uma vara vertical que lhe serve de eixo", do árabe al-míár, plural de al-mírâ "aprovisionamento, monte de cereal". Não vemos como um monte de palha possa dar o nome a um lugar.
Em Castela e Catalunha encontramos também este topónimo, sob as formas Almenar e Almenara, mas não encontrámos qualquer rasto dele na Galiza.

BAPTISTA, Augusto Soares de Sousa (1959) — Ponte de Almeara. In Arquivo do Distrito de Aveiro. Aveiro: Francisco Ferreira Neves. Vol. 25, n.º 97 (1959), p. 47-54.
BORRALHA, Conde da (1936) — Inquirições de D. Afonso II no Distrito de Aveiro: Francisco Ferreira Neves. In Arquivo do Distrito de Aveiro. Aveiro. Vol. 2, nº 7 (1936), p. 243-244; vol. 2, nº 8 (1936), p. 285-291
CELDRÁN, Pancracio (2002) — Diccionario de topónimos españoles y sus gentilicios. Madrid: Espasa. XVIII, 1059 p. ISBN 84-670-0146-1
ELUCIDÁRIO. Vd. SANTA ROSA DE VITERBO, Joaquim de (1983-1984) — Elucidário…
FRAZÃO, A. C. Amaral (1981) — Novo dicionário corográfico de Portugal: Continente e Ilhas Adjacentes. Ed. aum., rev. e actual. por A. A. Dinis Cabral. Porto: Editorial Domingos Barreira. 1040 p.
KRUS, Luís (1993) — D. Dinis e a herança dos Sousas: o inquérito régio de 1287. Estudos Medievais. Porto: Centro de Estudos Humanísticos. Nº 10(1993), p. 119-158.
SANTA ROSA DE VITERBO, Joaquim de (1983-1984) — Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram… 2ª ed. crítica por Mário Fiúza. Porto: Livraria Civilização, 1983-1984. 2 vol. [Nas citações usamos, em vez do nome do autor, a primeira palavra do título — Elucidário — seguida dos números correspondentes ao volume e página]

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Fontes toponímicas

Para Portugal, a principal fonte toponímica é o Reportório Toponímico de Portugal (Portugal: 1967), com 3 volumes dedicados ao continente, que "contém 165.710 topónimos compilados das edições publicadas até 1965 pelo Serviço Cartográfico do Exército, da Carta Militar de Portugal na escala 1/25.000". Num outro volume da mesma origem (Portugal: 1998), encontraremos 7.246 topónimos das regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
Para além da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, onde podemos encon­trar centenas de topónimos, um bom dicionário e uma excelente entrada s.v. "Toponímia" [Fernandes, 195?], existem vários dicionários corográficos e geográficos, de valor desigual, mas nem por isso de consulta menos proveitosa.
Começando pelo século XVI, destacamos a Corografia de alguns lugares […], de Gaspar Barreiros, publicada em Coimbra em 1561, com 2ª ed. de 1968. Na Biblioteca Nacional existe um manuscrito deste mesmo autor, sob o título Suma e descripçam de Lusitania, publicado há alguns anos na Revista da Universidade de Coimbra (Almeida, 1984).
Do século XVII temos o Prontuário das Terras de Portugal, de Vicente Ribeiro de Meireles, datado de 1689, que, embora nunca tenha sido publicado, pode ser consultado na Biblioteca Nacional, onde se guarda o respectivo manuscrito (vd. estudo em Costa: 1955).
No século XVIII surgem várias obras deste tipo, de que destacamos a Corografia Portuguesa de António Carvalho da Costa (1706-1712, 3 vol.), com 2ª edição, também em três volumes, publicada em Braga, na Tipografia de Domingos Gonçalves Gouveia (1868-1869). Esta obra ficou muito mais acessível depois de 2001, aquando da respectiva edição em cd-rom, pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.
João Baptista de Castro trouxe a lume o Mapa de Portugal Antigo e Moderno (1745-1758, 5 vol.) e o Roteiro terrestre de Portugal (1748). O Mapa, na sua 1ª edição, foi publicado em cinco partes, editadas respectivamente em 1745, 1746, 1747, 1749 e 1758. A 2ª ed. revista e aumentada, saiu em 3 volumes de 1762 a 1763, impressa em Lisboa na Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno. Uma 3ª ed., revista e aumentada por Manoel Bernardes Branco, foi publicada em 1870, em 4 vol., impressa em Lisboa na Typografia do Panorama. O Roteiro teve uma 3ª ed. em 1767, ainda em vida do autor (1700-1775), tendo sido por ele corrigida e aumentada. Registam-se ainda algumas edições no século seguinte — 4ª (1809), 5ª (1825), 6ª (1832) —, todas publicadas em Lisboa, a primeira na Nova Officina de João Rodrigues Neves e as duas últimas na Impressão de João Nunes Esteves. Em 1844, com mais quatro páginas que a precedente, aparece uma autodesignada "nova edição muito accrescentada e correcta", impressa igualmente em Lisboa, na Typ. de M. J. Coelho.
Ainda nesta centúria, merece realce a obra do padre Luís Cardoso, seja o Dicionário geográfico ou notícia histórica de todas as cidades (1747-1751), em 2 vol. que ficaram pela letra C, ou o Portugal sacro-profano, obra onde se catalogam as freguesias portuguesas, com notícias sobre as respectivas igrejas e oragos. Os dois volumes publicados do Dicionario abrangem respectivamente as letras A-AZU e BAB-CUV; o resto da obra ficou inédito, mas pode ser consultado na Torre do Tombo, onde o respectivo manuscrito se encontra depositado.
Na centúria de Oitocentos apareceu o Portugal Antigo e Moderno de A. Pinho Leal e Pedro Augusto Ferreira (1873-1890, 12 vol.), que deve ser consultado com algum cuidado, pois, a par de elementos de valor, está pejado de informação lendária, reco­lhida sem qualquer rigor científico. A obra foi inicialmente da responsabilidade única de Pinho Leal, tendo sido continuada, após a sua morte (1884), por Pedro Augusto Ferreira.
Ainda no mesmo século, foram publicados o Dicionário corográfico de Portugal (1870), de Emiliano Augusto Bettencourt; a Corografia Moderna do Reino de Portugal, de João Maria Baptista e João Justino Baptista de Oliveira (1874-1879, 7 vol.), cabendo a este último a conclusão da obra, já que o primeiro faleceu em 1876.; o Dicio­nario de Geografia Universal, obra colectiva em 4 vol., dirigida por Tito Augusto de Carvalho (1878-1887); o Dicionário da Corografia de Portugal, volume coordenado por J. Leite de Vasconcelos e publicado no Porto em 1884, e o Dicionário postal e corográfico de Portugal, de João Baptista da Silva Lopes (1891-1894, 3 vol.). De um homónimo deste último, também ele João Baptista da Silva Lopes, foi publicada, em 1841, uma Corografia […] do reino do Algarve.
Ainda neste século, Francisco dos Prazeres Maranhão, sob o pseudónimo de António Fernandes Pereira, publicava o seu Dicionário geográfico abreviado de Portugal (1852) e, no ano seguinte, seria a vez de vir a lume o Dicionário Geográfico de Pedro José Marques. Em 1878, a Imprensa da Universidade de Coimbra editava o Dicionário corográfico do reino de Portugal, de Agostinho Rodrigues de Andrade, também autor da Corografia histórico-estatística do distrito de Coimbra, publicada pelo mesmo editor em 1896. No campo da antroponímia, mas também com óbvio interesse para a toponímia, Francisco da Silva Mengo publicou, em 1889, o seu Dicionário de nomes de baptismo que, como consta do próprio título completo, regista mais de quatro mil nomes.
O século XX abriu com a edição dos 7 vol. do Portugal: Dicionário histórico, corográfico, heráldico… de [João Manuel] Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, publicados de 1904 a 1915; entre 1929 e 1949 foram sendo publicados os 12 vol. do Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular de Américo Costa, no qual podemos encontrar milhares de topónimos portugueses. De registar ainda a obra Terras Portuguesas: arquivo histórico e corográfico (1932-1940), da autoria de João Bap­tista Lima, num total de 8 vol. publicados na Póvoa do Varzim. Por estes anos também José Leite de Vasconcelos publicará o 3º volume dos seus Opúsculos, sobre Onomatologia (Vasconcelos, 1931) e a sua obra sobre Antroponímia Portuguesa (Vasconcelos, 1928).
Para ter à mão, a escolha pode recair no Novo Dicionário Corográfico de Portugal (1981), de A. C. Amaral Frazão, edição revista, aumentada e actualizada por A. A. Dinis Cabral, e publicada pela Editorial Domingos Barreira.
Na Biblioteca Nacional existe, em manuscrito, uma História [eclesiástica] de Coim­bra, com muitos elementos toponímicos para a zona de Coimbra e Aveiro e diversos materiais referentes aos séculos XVIII e XIX (Carvalho: 1795-1825).
Para uma visão completa dos diferentes dicionários onomásticos, publicados em Portugal ou no estrangeiro e usados no nosso País no século XVI, ver Telmo Verdelho (1993). Para dicionários em geral, desde os bilingues medievais à lexicografia actual, ver o mesmo autor (Verdelho: 1994).

Porque o estudo da toponímia portuguesa passa obrigatoriamente por Espanha e pelo sul de França, seleccionamos algumas obras de consulta fundamental. Desde logo o Diccionario Geogra­fico–Estadistico–Historico, de Pascual Madoz, com um total de 16 volumes publicados em Madrid entre 1845 e 1850. Este dicionário tem vindo a ser reeditado desde 1984, em reprodução fac-similada da edição de Madrid. Mas o projecto editorial é agora diferente, contando já algumas dezenas de volumes, com cada um deles a corresponder apenas a uma província, para facilitar a respectiva edição, já que possibilita associar as autoridades políticas locais à Editora "Âmbito", de Valladolid.
Em segundo lugar apontamos para o Grande Diccionario Geografico de España, em 17 volumes, publicado entre 1956 e 1961 sob a direcção de Rafael Sanchez Mazas, com o seuinte conteúdo: vol. 1.
Aba-Aldeaquemada; vol. 2. Aldea Real-Arcos de la Sierra; vol. 3. Arcos de las Salinas-Barceló; vol. 4. Barcelona-Bocairente; vol. 5. Bocal, El-Caldeliñas; vol. 6. Caldemoreiras-Carlet; vol. 7. Carlín-Catarroja; vol. 8. Catasol-Cortegada; vol. 9. Cortegada-Fresno de la Polvorosa; vol. 10. Fresno de la Rivera-Hoz Seca; vol. 11. Huali-Madrid; vol. 12. Madrid-Múrcena; vol. 13. Murcia-Pías; vol. 14. Piasca-Sada; vol. 15. Sádaba-Suzana; vol. 16. Ta-Viana de Mondéjar; vol. 17. Vianas-Zuzones. Apéndices: Plazas de Soberanía y Provincias Africanas, Poblados Nuevos, Addenda.
Começam a aparecer os repertórios toponímicos das diferentes autonomias espanholas, de que é exemplo o Nomenclátor de la comunidad de Madrid: 1991.
E, no que se refere a Espanha, fechamos com a Enciclopedia Lingüistica Hispânica (1960-1967, 3 vol.), obra de actualização teórica para os anos cinquenta, dirigida, entre outros, por M. Alvar, a que acrescentamos o Diccionario de gentilicios y toponimos, de Daniel Santano y Leon, publicado em Madrid em 1981, a Enciclopedia de los topónimos españoles, publicada em Barcelona (Albaigès, 1998), o Diccionario de topónimos españoles y sus gentilicios (Celdrán, 2002) e o
Breve diccionario de topónimos españoles de Nieto Ballester, publicado em Madrid em 1997.

Passando à Galiza, destacamos a Gran Enciclopedia Gallega, que Ramón Otero Pedrayo dirigiu até à sua morte. Esta obra, com os actuais 36 volumes, começou a publicar-se em 1974, organizando-se da seguinte forma: t. 1: A-Aloya; t. 2: Alpe-Astro; t. 3: Astu-Bole; t. 4: Boli-Canse; t. 5: Canta-Castro; t. 6: Castro-Colga; t. 7: Coli-Couse; t. 8: Cousi-Demo; t. 9: Dena-Ele; t. 10: Elfe-Estela; t. 11: Estele-Felipe; t. 12: Feliu-Fexo; t. 13: Fia-Fosa; t. 14: Foso-Galego; t. 15: Galegu-Gel; t. 16: Gema-Guernal; t. 17: Guerra-Imprenta; t. 18: Inci-Layo; t. 19: Laza-Lugris; t: 20: Luia-Melr; t. 21: Mella-Moura; t. 22: Moure-Obra; t. 23: Obre-Pañan; t. 24: Pao-Pintos; t. 25: Pintu-Puer; t. 26: Puga-Riña; t. 27: Rio-Santa Cu; t. 28: Santa-Suar; t. 29: Suárez-Vázquez; t. 30: Vea-Zurita; t. 31, Apéndice 1980-1990: A-fene; t. 32, Apéndice 1980-1990: Fernan-Zunzun; t. 33, Apéndice 2000: A-chicharro; t. 34, Apéndice 2000: Dacosta-Jose; t. 35, Apéndice 2000: Karbo-Rodríguez; t. 36, Apéndice 2000: Rodríguez-Zumel.
Actualmente esta enciclopédia está a ser editada em pelo menos 44 volumes, com o título Gran Enciclopédia Galega Silvério Cañada, pelos jornais El Progreso e Diario de Pontevedra, com o apoio da Fundación Caixa Galicia.
Mais recente, também com bastante informação toponímica, temos a EGU, Enciclopedia Galega Universal, em 16 volumes, dirigida por Bieito Ledo Cabido e publicada pela Ir Indo Edicións de Vigo, de 1999 a 2006, organizada como segue: Vol. 1: a-anei; vol. 2: anel-balb; vol. 3: balc-braq; vol. 4: bras-casal; vol. 5: casam-colq; vol. 6: color-cura; vol. 7: curb-edt; vol. 8: edu-fad; vol. 9: fae-gira; vol. 10: giro-khod; vol. 11: khoi-meir; vol. 12: méis-oita; vol. 13: oite-pole; vol. 14: polg-rol; vol. 15: rom-teler; vol. 16: teles-zyt.
O Diccionario geográfico-estadístico-histórico de España de Pascual Madoz, na parte referente à Galiza, foi reeditado em 1986, em 6 volumes.
Para além destas obras temos um excelente programa informático, propriedade intelectual da Associaçom Galega da Língua (AGAL), de importação gratuita a partir do Portal Galego da Língua; falamos do TOPOGAL, que apenas inclui topónimos referentes a centros populacionais. Mais completo, temos a versão electrónica do Nomenclátor de Galicia, para o qual encontrarão uma ligação neste blogue e a respectiva edição física, o
Nomenclátor de Galicia : toponimia oficial das provincias, concellos, parroquias e lugares (Espanha, 2003b).

A Catalunha proporciona-nos a Gran Enciclopèdia Catalana, actualmente com 25 volumes, este último (25-26) já um "Suplement". A obra começou a publicar-se em 1970 sob a direcção de Jordi Carbonell, substituído, a partir do vol. 4, por Joan Carreras i Marti. A obra organiza-se da seguinte forma: v. 1. A-alf v. 2. Alg-aqu v. 3. Ar-bah v. 4. Bai-bia v. 5. Bib-calb v. 6. Calc-cata v. 7. Cata-compl v. 8. Compo-deme v. 9. Demi-ensi v. 10. Enso-felig v. 11. Felip-gee v. 12. Geg-iberi v. 13. Ibero-llar v. 14. Llas-maup v. 15. Maur-muset v. 16. Museu-pair v. 17. País-picor v. 18. Picos-quil v. 19. Quim-rossej v. 20. Rossell-segr v. 21. Segú-sulk v. 22. Sull-trai v. 23. Traj-vent v. 24. Venu-zyt v. 25-26. Suplement.
Reunindo os vários nomencladores provinciais, temos ainda o Nomenclàtor: nomenclàtor oficial de toponímia major de Catalunya (Espanha, 2003a), que permite consultas via net e a importação das respectivas listas toponímicas, e para o qual também encontrarão uma ligação neste blogue.

Falando de França, é importante consultar as enciclopédias regionais, muitas delas disponíveis na Gallica, a biblioteca digital da BNF, e os vários dicionários do francês regional, que têm vindo a ser publicados pelas Editions Bonneton. Para além do léxico, que ajuda a resolver alguns dos problemas colocados pela toponímia, muitos destes dicionários têm apêndices com nomes de lugares, e relações bibliográficas actualizadas.
Bastante importante, pelo rigor científico e elevado número de topónimos tratados, a obra de Christian Baylon e Paul Fabre, Les noms de lieux et de personnes (Baylon & Fabre, 1982).

Referências bibliográficas das obras citadas:

ALBAIGÈS, Josep Maria (1998) — Enciclopedia de los topónimos españoles. Barcelona: Planeta. 678 p. ISBN 84-08-02587-2.

ALMEIDA, Justino Mendes de (ed.) (1984) — Suma e descripçam de Lusitania (Cód. 8457 da BN): um inédito de Gaspar Barreiros. Coimbra: Universidade. 51 p. Separata da "Revista da Universidade de Coimbra", n.º 31.

ALVAR, Manuel [et al.], ed. (1960-1967) — Enciclopedia Lingüística Hispánica. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas. 3 vol. Vol. 1: Antecedentes. Onomástica (1960); Supl. La fragmentación fonética peninsular (1962); vol. 2: Elementos constitutivos. Fuentes (1967). Editores: Manuel Alvar, Antoni Badia, Rafael de Balbín, Luís F. Lindley Cintra.

ANDRADE, Agostinho Rodrigues de (1878) — Diccionario Chorographico do reino de Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade. VII-254 p.

ANDRADE, Agostinho Rodrigues de (1896) — Corografia historico-estatistica do distrito de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade. 298 p. 16 mapas.

BAPTISTA, João Maria; OLIVEIRA, João Justino Baptista de (1874-1879) — Chorographia moderna do Reino de Portugal. Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias. 7 vol.

BARREIROS, Gaspar (1968) — Chorographia de alguns lugares que stam em hum caminho que fez Gaspar Barreiros ó anno de M.D.xxxxvj. começando na cidade de Badajoz em Castella te á de Milam em Italia; com algumas outras obras cujo catalogo vai scripto com os nomes dos dictos lugares na folha seguinte. Coimbra: Universidade. 2ª ed. X, [24] p, 248 fl., [195] p. (Acta Universitatis Conimbrigensis; 5). Reprodução diplomática do texto da 1ª ed. de 1561.

BAYLON, Christian; FABRE, Paul (1982) — Les noms de lieux et de personnes. Introd. de Charles Camproux. [Paris]: Éditions Fernand Nathan. 277 p. (Nathan-Université).

BETTENCOURT, E[miliano] A[ugusto] de (1885) — Diccionario chorographico de Portugal e Ilhas Adjacentes contendo as divisões administrativa, judicial, eclesiastica e militar ultimamente decretadas… 3ª ed. Lisboa: Typographia Universal. 206 p. Ilustrado com mapas. Este dicionário teve três edições no espaço de 15 anos, já que a 1ª ed. é de 1870.

CARDOSO, Luís (1747-1751) — Diccionario geografico ou noticia historica de todas as cidades, villas, lugares, e aldeas, rios, ribeiras, e serras dos Reynos de Portugal e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontrão, assim antigas, como modernas. Lisboa: Regia Officina Silviana. 2 vol. 1º vol.: A-AZU; 2º vol. BAB-CUV. O manuscrito da obra completa está depositado na Biblioteca Nacional.

CARDOSO, Luís (1767-1768) — Portugal sacro-profano, ou catalogo alfabetico de todas as freguesias dos reinos de Portugal e Algarve: das igrejas com seus oragos… Lisboa: Officina de Miguel Manescal da Costa. 3 vol.

CARVALHO, Francisco de (1795-1825) — Historia de Coimbra, mestra de toda a naçam portugueza, paraiso de Portugal... [Manuscrito]: livro onde has-de ver nelle hum catalogo dos seus bispos, hum mapa dos seus naturaes insignes por virtude e letras, hum compendio de portugueses mestres nas universidades do mundo, a fundacam das freguesias, conventos e colegios da mesma, muitas obras de seus moradores dignas de serem lidas, todos os successos notaveis que nela aconteceram. Coimbra. 2 vol. [1778 p.] Inclui toponímia. Cota da Biblioteca Nacional: BN COD. 905; BN COD. 906; Microfilme F 3660.

[CARVALHO, Tito Augusto de (dir.)] (1878-1887) — Diccionario de geographia universal. Por uma Sociedade de Homens de Sciencia. Lisboa: David Corazzi. 4 vol.

CASTRO, João Baptista de (1762-1763) — Mappa de Portugal antigo e moderno. 2ª ed. rev. e aum. Lisboa: Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno. 3 vol.

CASTRO, João Baptista de (1870) — Mappa de Portugal antigo e moderno. 3ª ed. rev. e aum. por Manoel Bernardes Branco. Lisboa: Typ. do Panorama. 4 vol.

CASTRO, João Baptista de (1748) — Roteiro terrestre de Portugal em que se ensinam por jornadas e summarios não os caminhos, e as distancias, que ha de Lisboa… 1ª. Lisboa: Officina de Miguel Manescal da Costa. 216 p.

CELDRÁN, Pancracio (2002) — Diccionario de topónimos españoles y sus gentilicios. Madrid: Espasa. XVIII, 1059 p. ISBN 84-670-0146-1

COSTA, Américo (1929-1949) — Diccionario chorographico de Portugal continental e insular: hydrographico, historico, orographico, biographico, archeologico, heraldico [e] etymologico. Pref. de José Joaquim Nunes. Porto: Civilização, 1929-1949. 12 vol.

COSTA, António Carvalho da (1868-1869) — Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal, com as noticias das fundaçoens das cidades, villas e lugares, que contèm; varoens illustres, genealogias das familias nobres, fundaçoens de conventos, catalogos dos bispos, antiguidades, maravilhas da natureza, edificios, & outras curiosas observaçoens. 2ª ed. Braga: Typographia de Domingos Gonçalves Gouvea, 1868-1869. 3 vol. A primeira edição é de 1706-1712.

COSTA, António Carvalho da (2001) — Corografia Portuguesa. Coord. do CD-ROM de Ana Cristina Nogueira da Silva. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Cx. Com 1 CD-ROM. (Ophir-Biblioteca Virtual dos Descobrimentos Portugueses; 4).

COSTA, Mário Alberto Nunes (1955) — O prontuário das terras de Portugal: manuscrito seiscentista de Ribeiro Meirelles. Lisboa: [s. n., D.L. 1955]. 10 p. Separata do Boletim A Cidade de Évora, n.º 33-34.

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ESPANHA. Xunta de Galicia. Consellería da Presidendia, Relacións Institucionais e Administración Pública / Consellería da Educación e Ordenación Universitaria (2003b) — Nomenclátor de Galicia : toponimia oficial das provincias, concellos, parroquias e lugares. [Santiago de Compostela]: Consellería da Presidencia, Relacións Institucionais e Administración Pública: Consellería de Educación e Ordenación Universitária. 623, [6] p. ISBN 84-453-3601-0

[FERNANDES, A. de Almeida] (195?) — Toponímia. In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa-Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [1935-1960]. vol. 32, p. 70-84. A autoria do artigo está confirmada pelo próprio autor (Vd. Fernandes, 1997: 29, n. 38).

FERNANDES, A. de Almeida (1997) — Paróquias suevas e dioceses visigóticas. 2ª ed. resumida e actualizada. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 176 p. ISBN 972-9474-11-7.

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FRAZÃO, A.C.Amaral (1981) — Novo dicionário corográfico de Portugal: Continente e Ilhas Adjacentes. 2ª ed. aum., rev. e actual. por A. A. Dinis Cabral. Porto: Editorial Domingos Barreira. 1040 p. A 1ª ed. é apenas da responsabilidade de António César Amaral Frazão, tendo sido publicada no Porto, pela mesma editora da 2ª ed., em 1952.

GRANDE ENCICLOPÉDIA Portuguesa e Brasileira. Lisboa: Editorial Enciclopédia, [1935-1960]. 40 vol. Esta enciclopédia tem uma Actualização em 10 vol. (1981-1987) e uma outra Actualização de História Universal e de Portugal em 7 vol. (2001-2002).

LEAL, Augusto Soares d' Azevedo Barbosa de Pinho; FERREIRA, Pedro Augusto (1873-1890) — Portugal antigo e moderno: diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira. 12 vol. Esta obra foi fac-similada em 1990, em edição da Cota d'Armas, de Lisboa.

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LOPES, João Baptista da Silva (coord.) (1891-1894) — Diccionario postal e chorographico do Reino de Portugal comprehendendo a divisão administrativa, judicial e ecclesiastica do Continente do Reino e dos archipelagos dos Açores e Madeira. Lisboa: Imprensa Nacional, 1891-1894. 3 vol. (Este autor, homónimo do anterior, viveu de 1819 a 1896).

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MADOZ, Pascual; rodríguez arce, Amador (1986) — Diccionario geográfico-estadístico-histórico de España y sus posesiones de ultramar. Galicia. Madrid: Breogán. 6 vol. (t. 1. A-Cabanas; t. 2. Cabanas-Coruña; t. 3. Coruto-Lamas; t. 4. Lamas-Oroso; t. 5. Oroso-Rosende; t. 6. Rosende-Zura.

[MARANHÃO, Francisco dos Prazeres] (1852) — Diccionario geographico abreviado de Portugal e suas possessões ultramarinas… por um flaviense. Porto: Typographia de Sebastião José Pereira. 257 p. Publicado sob o pseudónimo de António Fernandes Pereira, da vila de Favaios.

MARQUES, Pedro José (1853) — Diccionario geographico abbreviado das oito provincias dos reinos de Portugal e dos Algarves, com a designação dos concelhos, comarcas, districtos, provincias, dioceses, oragos, freguezias, conguas respectivas, legoas de distancia, correios e feiras. Seguido de interessantes noticias corographicas e historicas; assim como d’uma tabella demonstrativa das Comarcas judiciaes, concelhos, numero de fogos, etc. Porto: Typ. Commercial. XIII-291 p.

MEIRELES, Vicente Ribeiro de (1689) — Promptuário das Terras de Portugal. Manuscrito, na Biblioteca Nacional.

MENGO, Francisco da Silva (1889) — Diccionario de nomes de baptismo, comprehendendo mais de quatro mil nomes de ambos os sexos, colligidos dos registos officiaes, da Mythologia, da Historia, dos «Flos Sanctorum», etc. Pref. de Theophilo Braga. Porto: Typ. Elzeviriana. 136 p.

NIETO BALLESTER, Emilio (1997) — Breve diccionario de topónimos españoles. Colab. de Araceli Striano Corrochano. 1ª ed. Madrid: Alianza Editorial. 447 p. ISBN 84-206-9487-8.

PEREIRA, António Fernandes: ver [MARANHÃO, Francisco dos Prazeres]

PEREIRA, [João Manuel] Esteves; RODRIGUES, Guilherme (1904-1915) — Portugal: diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artistico… Lisboa: João Romano Torres. 7 vol.

PORTUGAL. Ministério do Exército. Serviço Cartográfico do Exército (1967) — Reportório Toponímico de Portugal. 03 – Continente (Carta 1/25.000). 3 vol. 1º vol.: A – E; 2º vol.: F – P; 3º vol.: Q – Z.

PORTUGAL. Instituto Geográfico do Exército (1998) — Reportório Toponímico de Portugal: Açores e Madeira - Carta 1/25.000, Séries M889 e P821. 69 p.

SANCHEZ MAZAS, Rafael (dir.) (1956-1961) — Diccionario Geografico de España. Madrid: Ediciones del Movimiento. 17 vol.

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VASCONCELOS, J. Leite de (1931) — Opúsculos. Volume III: Onomatologia. Coimbra, Imprensa da Universidade. XVII, 691 p.

VERDELHO, Telmo (1993) — Os dicionários de nomes próprios no séc. XVI e a transmissão da história antiga. In CONGRESSO PENINSULAR DE HISTÓRIA ANTIGA, 2, Coimbra, 1990 – Actas. Coimbra: Universidade, 1993. p. 311-322.

VERDELHO, Telmo (1994) — Portugiesisch: Lexikographie. Lexicografia. In HOLTUS, Gűnter; METZELTIN, Michael; SCHMITT, Christian, ed. – Lexikon der Romanistischen Linguistik. Tűbingen: Max Niemeyer Verlag, 1994. ISBN 3-484-50336-X. vol. 6/2, p. 673-692. Em linha, no endereço http://clp.dlc.ua.pt/Publicacoes/lexicografia.pdf

VERDELHO, Telmo (2002) — Dicionários Portugueses: Breve história. Em linha, no endereço: http://clp.dlc.ua.pt/Publicacoes/Dicionarios_breve_historia.pdf

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Antroponímia e toponímia (5): Em Coimbra, a fusão norte-sul

A segunda metade do século XI é um período de nítido avanço das forças cristãs. Fernando Magno reconquista Coimbra em 1064, auxiliado pelo conselho e participação pessoal de Sisnando, um moçárabe de Tentúgal que, raptado pelos muçulmanos, permanecera longo tempo na Corte de Sevilha, onde desempenhou o elevado cargo de vizir.
Incompatibilizado com o rei de Sevilha, Sisnando aparece na corte de Fernando Magno, onde vê as suas qualidades reconhecidas pelo rei cristão, que lhe entrega o governo de Coimbra e da Terra de Santa Maria, isto é, o território de Entre Douro e Vouga, antes integrado no condado de Portucale. E será no Norte do Douro que Sisnando irá procurar as alianças familiares indispensáveis ao fortalecimento do seu poder, pois é lá que o cônsul de Coimbra, como se exibe na documentação da sua chancelaria, vai buscar a filha do último conde portucalense — Loba Nunes "Aurovelido" — com a qual contrairá matrimónio.
A personalidade de Sisnando Davides marcou indelevelmente a vida da cidade do Mondego, norteando-se o seu governo por uma política de independência e tolerância. Moçárabes, cristãos do Norte e muçulmanos conheceram em Coimbra, durante cerca de trinta anos, que tantos foram os de governo sisnandino, uma coexistência sem sobressaltos, que possibilitou um próspero intercâmbio cultural e comercial entre as comunidades de diferentes credos religiosos.
O bispo Paterno de Coimbra, que Sisnando foi buscar a território mourisco, trouxe consigo a cultura e as tradições árabes, notoriamente presentes na escola que o prelado dirige na Sé coimbrã, uma réplica das escolas teológicas que funcionavam anexas às mesquitas.
As influências mouriscas estão ainda presentes no estilo notarial adoptado pela chancelaria do conde Sisnando, cuja corte inclui muitas personagens com antropónimos árabes ou arabizados. Assaz mais determinante para o futuro de Portugal, o facto de Sisnando trazer consigo os costumes e regulamentos das cidades do Sul, as tradições de autogoverno, milícias e magistraturas municipais, presentes na génese dos nossos primeiros concelhos.
Se nenhum destes factores pode ser considerado decisivo para a formação de Portugal, não há dúvida que contribuíram, com a sua quota parte, para a definição da individualidade do nosso território.
A Sisnando irão suceder os franceses Raimundo e Henrique, este último governando do Minho ao Tejo. Os francos trazem consigo a Ordem de Cluny, que pretende unificar culturalmente a terra cristã peninsular, impondo os seus pontos de vista e os ritos romanos. A reacção do centro do condado vai ser imediata e D. Henrique, se quer manter a orgulhosa Coimbra, terá de fazer várias concessões à sua população, bem patentes no foral que lhe outorgou em 1111.
Afonso Henriques, no seu caminhar para sul, parece reconhecer as virtualidades de Coimbra, cidade que foi cadinho onde se caldearam culturas e afirmaram forças municipalistas. O nosso primeiro rei escolherá Coimbra para centro do seu governo, certamente por lhe reconhecer as qualidades que permitirão a construção da ponte que unirá a cultura do norte à cultura do sul, a cultura neogoda e franco-cluniacense à cultura moçárabe.
O centro do País respondeu aos anseios do primeiro Afonso de Portugal. A atestá-lo temos a rápida implantação das fronteiras definitivas de Portugal (no século XIII, no reinado de Afonso III), e o desenvolvimento do espírito nacional que, nos alvores de Aljubarrota, se espalha do Algarve ao Minho.

Mesmo recusando a tese do ermamento total, não podemos duvidar da grande movimentação de gentes que terá ocorrido no Noroeste da Península, entre os séculos VIII e XII, na sequência das acções militares promovidas pelas forças cristãs (neogodas) e pelas armas muçulmanas. A situação de guerra permanente terá contribuído para a afirmação da unidade cultural das forças cristãs, que recorrem a diferentes instrumentos para aprofundar e vincar a sua singularidade, que passará por um novo sentimento nacional estribado na assunção da herança do reino visigodo. É neste contexto que assistimos a uma verdadeira avalancha de antroponímia germânica, um "modismo" que sobressai na documentação desta época, com especial presença na toponímia local, na sequência das presúrias (ver glossário da postagem anterior), doações e compra e venda de propriedades, ligadas à estruturação de novos domínios laicos e religiosos, estes últimos em torno de sés, mas principalmente de um número crescente de mosteiros.
A este contributo teremos de juntar, talvez com o mesmo peso e importância, a acção das comunidades moçárabes de entre Douro e Mondego, e outras provenientes de territórios situados mais a Sul, grupos que arribaram a Norte durante o governo sisnandino, num movimento que se intensificou nos anos seguintes, quando os chefes francos e a Ordem de Cluny trouxeram para a Península o espírito de cruzada, transformando a Reconquista numa guerra religiosa, até aí inexistente. Foram estes moçárabes os responsáveis pela entrada no território cristão de uma numerosa antroponímia de origem hispano-árabe, que também encontramos presente na toponímia de entre Douro e Minho e mesmo da Galiza, ainda que com muito menor incidência.

Mas importa vincar que não podemos confundir germanismo onomástico com germanismo étnico, nem moçarabismo onomástico com etnia arábica. Bastará atentar no nome do cônsul de Coimbra, Sisnando Davides: um hispano-romano, moçárabe, com nome germânico (Sisnando) e patronímico judaico (Davides = filho de David).

Chegados ao século IX, podemos afirmar que os godos já tinham perdido o seu idioma e, como é óbvio, toda a importância que lhes advinha da proeminência política que os isolara da sociedade hispano-romana. Por esta época estavam definitivamente diluídos na comunidade hispânica cristã, tendo sido esta comunidade, no seu todo, a responsável pela germanização do onomástico peninsular. Se bem interpretamos esta realidade, o fenómeno em questão correspondeu a um dos caboucos de um novo imaginário, fundador de uma nova ideologia, capaz de cimentar social e politicamente o grupo humano que pretendia opor-se ao emirato, depois califado, de Córdova.
Quanto aos moçárabes, não passavam de hispano-romanos, cristãos, a viver em regiões controladas pelos muçulmanos, quase sempre bilingues, falando romanço e hispano-árabe, e partilhando das duas culturas que, por estes tempos, marcavam o mapa da Hispânia. À semelhança dos hispano-romanos, que adoptaram o germanismo onomástico sem por isso serem germânicos, também não foi por abraçarem um onomástico hispano-árabe que os moçárabes se transformaram em árabes ou muçulmanos.
A realidade política e religiosa do século XII, com as novas nacionalidades e a uniformização litúrgica, conseguida à custa da perseguição das especificidades e ritos locais, irá pôr fim ao onomástico germânico, substituído, paulatinamente pelos nomes latino-cristãos dos santos.

Também o romance ganhará novo fôlego no Noroeste Peninsular, fundamentalmente ao longo da Reconquista, num processo a que não será estranha a colonização galega e de entre Douro e Minho, que desce às regiões do Vouga e do Mondego na esteira de um vasto conjunto de próceres e presores, muitos dos quais aqui se estabelecem, como foi o caso dos representantes da chamada casa de Marnel.
Em conclusão, é legítimo afirmar que o romance se desenvolveu no Noroeste da Península, invadindo os meios rurais, principalmente a partir do século V, quando o convívio de diferentes adstratos se foi precipitando numa língua comum, construída a partir do latim popular. Daqui nascerá o galaico-português, quando o Noroeste começa a voltar costas ao centro leonês, ainda mais longínquo quando se desloca para Toledo, procurando o seu próprio caminho político, capaz de aprofundar os caboucos de uma cultura secular, plena de especificidades. Os que do Sul subiram a Norte, e nele se fundiram, ajudarão, por sua vez, o Norte a descer ao Sul. E desse encontro, e dessa cultura, teria que sair uma língua diferente, capaz de exprimir o canto dessa mesma diferença.

Bibliografia:
COELHO, António Borges (1973) — Comunas ou concelhos. 1ª ed. Lisboa: Prelo Editora. 218 p. (Cadernos de Hoje; n.º 13).
PIEL, Joseph-Maria (1989) — Estudos de linguística histórica galego-portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. 282 p. (Estudos Gerais / Série Universitária).
RIBEIRO, Orlando (1979) — PORTUGAL, Formação de. in SERRÃO, Joel, dir. — Dicionário de História de Portugal. Reed. Porto: Iniciativas Editoriais. vol. 5, p. 130-149.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Antroponímia e toponímia (4): A Reconquista

A natureza das dissenções que grassavam entre a diversidade étnica dos invasores, e mesmo entre os representantes das diferentes tribos árabes, vieram facilitar todo o processo da Reconquista, cedo iniciada a partir das serranias asturianas, sob o comando de Pelágio, o chefe ásture responsável pela primeira derrota muçulmana, em 718, nos acidentados terrenos de Covadonga.
O reflexo destas divergências patenteia-se no elevado número de governadores que o al-Andaluz conheceu de 710 a 755, enquanto emirato dependente de Damasco, muitos dos quais acabaram os seus dias assassinados. Se excluirmos Tárique e Muça, os conquistadores, contamos vinte governadores, dois dos quais exerceram o cargo em dois mandatos distintos (Coelho, 1989: v. 2, 55-56). Durante este período acontecem as revoltas de berberes no Norte de África (740) e no Centro e Norte da Península (741), aqui devido a uma fome que levará muitos deles a regressar às terras de origem.
Estes acontecimentos serão aproveitados pelo recém formado reino das Astúrias, através de várias razias praticadas por Afonso I (739-757), que consegue expulsar os muçulmanos da Galiza (750-751) e de Astorga (753-754), avançando ainda mais para Sul, até Viseu. Mas a ausência de recursos político-militares não permitiu a Afonso I ocupar a zona assolada, preferindo recuar para território mais seguro, levando consigo os quadros administrativos e, possivelmente, alguns elementos da população, o que deu lugar à denominada tese do ermamento* das margens do Douro, defendida por Alexandre Herculano com base numa interpretação literal do Chronicon Sebastiani. Estudos do início do século passado, como os publicados por Alberto Sampaio em 1923 (Sampaio: 1979), e outros mais recentes, como os de Pierre David (1947), Avelino Jesus da Costa (1959) e Almeida Fernandes (1968), demonstram que não podemos aceitar uma leitura precipitada, ignorando a mentalidade e os objectivos políticos que subjazem a muitos diplomas.
Dois importantes documentos dos séculos VI e VII, já utilizados, entre outros, pelos referidos Pierre David e Avelino Jesus da Costa, mas cujo estudo pioneiro se deve a Almeida Fernandes (1968), permitem-nos rasgar algum caminho no conhecimento histórico do Noroeste hispânico, já que o seu conteúdo, quando comparado com a documentação dos séculos IX-X, possibilita a rejeição da referida tese do ermamento total. Os documentos em questão correspondem à Divisio Teodemiri ou "Paroquial Suevo", redigido entre 572 e 582-585, e à Divisio Wambae ou "Provincial Visigótico", redigido em meados da segunda metade do século VII ou talvez ainda antes de 665, no reinado de Recesvinto (Fernandes, 1997: 43, 109, 115)
O mérito de Almeida Fernandes, que se circunscreveu ao método toponímico, reside sobretudo na identificação de muitas das antigas paróquias suevas, descobrindo a permanência desses topónimos, mesmo quando profundamente dissimulados sob sucessivas capas de deturpações e corruptelas, presentes nos documentos em questão ou acumuladas ao longo dos últimos séculos. Recentemente, também Jorge de Alarcão (2001) trabalhou na identificação destas paróquias, com meios mais credíveis, pois incluiu um variado conjunto de dados fornecidos pela arqueologia, confirmando algumas das conclusões de Almeida Fernandes, mas discordando de outras.

O al-Andaluz receberá sangue novo em 755, quando ali desembarca Abderramão ibne Moáuia, sobrevivente do massacre da dinastia omíada de Damasco. Abderramão I abre um novo ciclo do poder muçulmano na Península, iniciando o emirato independente de Córdova, que durará até 929, quando outro Abderramão, o III, o eleva à categoria de Califado, com as respectivas consequências religiosas, já que o califa é também o emir dos crentes, o mesmo é dizer, descendente legítimo do Profeta.
O Califado de Córdova estará de pé durante um século, até 1031, quando as quezílias, os conflitos e a guerra aberta entre os príncipes árabes, em concorrência com a degeneração dos últimos califas, encerrados nos seus palácios e transformados em marionetas de eunucos ou de ministros como Almançor, que governou como ditador durante mais de vinte anos, levaram à sua pulverização nos numerosos reinos de Taifas*.
O Norte cristão também vivia permanentes conflitos, como resultado directo da fragmentação do reino de Leão, sempre que a um rei sobreviviam vários filhos, contribuindo dessa forma para o reacordar de identidades político-culturais, muitas delas assentes em matrizes ancestrais, cujos desenvolvimentos eram tanto mais fortes, quanto maior era a distância que as separava da corte leonesa. Por tudo isto, a Reconquista avançava ou recuava em função do estado de organização e unidade de cada uma das partes.
Regressando às margens do Douro, pretensamente «ermadas» por Afonso I, e ao território onde mais tarde nascerá Portugal, importa destacar as acções promovidas no reinado de Afonso III (866-911), quando nasce o reino de Leão, por deslocação da respectiva capital, de Oviedo para aquela cidade, cujo nome assume a reminiscência do antigo assentamento militar da Legio VII Gemina.
Uma prolongada acalmia política no Norte cristão ofereceu o ensejo e as condições para um avanço da fronteira em direcção a Sul, ao longo da faixa atlântica, mais distante dos centros de decisão muçulmanos, envolvidos frequentemente na resolução de conflitos com as principais cidades mediterrâneas do al-Andaluz. Vímara Peres, ao presuriar Portucale em 868, irá reorganizar e enquadrar politicamente toda essa zona, estabelecendo a sede de governo e de repovoamento na antiga cividade da margem direita duriense.
Desta presúria, e do repovoamento de Portucale, resultará uma poderosa família condal, onde entroncaram os descendentes de Vímara Peres, do conde Gonçalo Betotes e dos irmãos Ero e Diogo Fernandes. Esta família governou o condado de 868 a 1071, data em que Nuno Mendes, o último conde, revoltado contra o rei Garcia, o filho de Fernando Magno que reinava na Galiza e em Portucale, é por este vencido e morto na batalha de Pedroso.
A revolta terá as suas raízes no reinado anterior, quando a política centralizadora do rei Fernando (1035-1065) retirou poder aos condes, confiando a administração a funcionários directamente dependentes da Coroa. A hipótese é tão mais verosímil, quanto sabemos que Nuno Mendes, embora apareça na corte de Fernando Magno, só ostenta o título de conde durante o governo de Garcia, período em que talvez tenha tentado recuperar todos os poderes anteriores.
Dez anos depois da presúria de Portucale, em 878, será a vez de Hermenegildo Guterres presuriar Coimbra, aí estabelecendo uma outra sede de repovoamento e levando a fronteira cristã até ao Mondego. Mas, neste caso, haverá um retrocesso, pois a reorganização árabe e o exército de Almançor, o ministro que reinou em vez do califa Hixeme I, mantido preso no seu próprio palácio, farão recuar uma vez mais a fronteira, embora aqui permaneçam os mosteiros e muitos familiares dos condes portucalenses, algumas vezes aliados aos árabes, numa clara e inequívoca afirmação de individualidade face a Leão.
Isto mesmo acontecerá cerca de 995, quando o conde Froila Gonçalves se aliou a Almançor, de quem terá recebido o governo de Montemor-o-Velho, onde se manteve até 1017, quando dali foi desalojado e vencido pelo conde Mendo Luz, que colocou no seu lugar o prócere Gonçalo Viegas “de Marnel”. Não será de excluir a hipótese do conde Froila ter também governado Coimbra, já que Almançor mandou reconstruir a cividade por essa mesma data.
Dois anos depois, com alguns cristãos no seu exército, Almançor atacará o coração da Galiza, profanando o túmulo do Apóstolo em Santiago de Compostela. Será nesta campanha que morrerá o conde portucalense Gonçalo Mendes, filho de Mumadona Dias. As investidas árabes ainda continuarão por algum tempo, como aconteceu em 1025 ou 1026, data provável da conquista de Lafões e talvez também de Montemor que, apenas em 1034, passará definitivamente para mãos cristãs, através de Gonçalo Trastemires
Depois da morte de Almançor (1002) e da desagregação do Califado (1031), o Norte cristão passará por uma fase de excepção, devido sobretudo ao papel desempenhado por Fernando I de Castela, o filho de Sancho III de Navarra que, ao herdar o condado da Meseta o transforma em reino (1035) para, dois anos depois, lhe juntar o de Leão, após vencer em combate o rei Bermudo III.
Até 1065 Fernando Magno, como a história o lembra, será rei de Leão e de Castela, o chefe cristão que mais fez avançar a fronteira para Sul, recebendo avultadas tributações de reinos de Taifas, abrigados sob a sua protecção. A obra será continuada por um dos seus filhos, o futuro Afonso VI, que, no entanto, terá de esperar sete anos após a morte do pai, para conseguir vencer os irmãos e reunir novamente os reinos de Leão, Castela e Galiza (Mattoso, 1981: passim).

Glossário*
ermamento: designa-se por "ermamento" o pretenso despovoamento de uma larga faixa fronteiriça (entre cristãos e muçulmanos), nas duas margens do Rio Douro, em consequência da acção de Afonso I, rei das Astúrias. A rarefacção demográfica considerada quase total por autores como Alexandre Herculano e Sanchez Albornoz e por muitos outros autores espanhóis que se seguiram a este, é negada por medievalistas portugueses e actualmente por partidários da nova historiografia espanhola, como Garcia de Cortázar, e sobretudo por M. Vigil e A. Barbero. Historiadores como Alberto Sampaio, Gama Barros, Pierre David, Menéndez-Pidal ou Avelino Jesus da Costa, e geógrafos como Orlando Ribeiro, apoiados em factos incontroversos e em aproximações pertinentes, mostraram em que sentido se deve tomar o ermamento: desordem social, ausência ou enfraquecimento dos quadros senhoriais, fuga das populações para lugares de refúgio, ruína e assolação dos centros urbanos, mas de modo nenhum despovoamento e supressão dos habitantes. Aquilo a que as fontes oficiais chamam repovoamento não é geralmente mais do que a colocação das autoridades régias, dos quadros político-administrativos e militares, num local já habitado e mesmo com uma organização local anterior.
neogodos: termo que serve para designar os habitantes do reino das Astúrias, fundado em 718 por Pelágio, na sequência da invasão e conquista da Península Ibérica pelos árabes; o termo pretende designar a mistura de Ástures com os Hispano-godos que se refugiaram no Norte (Astúrias) a seguir à invasão dos Árabes; o reino das Astúrias dará lugar ao reino de Leão, quando a Reconquista avança para Sul e a capital, que fora inicialmente em Cangas de Onis e depois em Oviedo, passa para a cidade de Leão (914), restaurada em 860 por Ordonho I.
presúria: instituto típico da Reconquista cristã da Península Ibérica, que correspondia à apropriação das terras e demais instalações, levada a cabo pelas forças neogodas*, nas regiões antes ocupadas e dominadas pelos muçulmanos; foi uma fonte importante da nova propriedade alodial e concelhia, como também de novos domínios senhoriais, fossem estes propriedade da nobreza, da Igreja ou dos reis (reguengos).
Reconquista: nome que geralmente se dá à recuperação do território hispânico depois da invasão muçulmana, desde a revolta de Pelágio (718) até à conquista de Granada (1492); embora inicialmente a Reconquista não tivesse revestido um carácter marcadamente religioso, a influência de ideias francesas, da cúria papal e das ordens militares acabará por introduzir na Península o espírito de cruzada.
taifas: Nome dado aos reinos muçulmanos independentes que se formaram na Península Ibérica após a queda e desmembramento do Califado de Córdova, em princípio do século XI, quando ricos proprietários árabes, chefes berberes e comandantes de contingentes de escravos retalharam o Al-Andaluz em seu próprio proveito, formando pequenas cortes locais. Taifa, do árabe al-ta’ifa, significa "partido" ou "bandeira".

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